Pátio Principal

Não era um problema apanhar. Não era um problema ficar caída no chão por poucos segundos, principalmente porque ainda parecia um pouco desnorteada. O único instinto era ser vencedora. Ele agarrou-a pela cintura e Andilla não sabia ao certo o que ele faria. Isso até perceber que Idriel fazia menção de pular da torre. Com ela. Andilla tomou impulso, mas ao contrário do que ele pretendia, ela não defendeu-se do soco no rosto - que abriu-lhe um corte no lábio inferior -, ou da joelhada no peito, que deixou-a sem ar, mas não totalmente sem forças. A drinael tomou impulso o suficiente para que a queda não fosse direta - e sim, diagonal. Estavam indo em direção ao chão do pátio, de onde tinha uma boa visão da torre de vigia. Andilla estava em queda livre, e foi o suficiente para posicionar-se atrás de Idriel e desferir nas costas do mesmo um chute potente e forte. Era pouco mais resistente a dor devido aos treinamentos intensos de Oziel, mas sabia que Idriel também era tão resistente quanto ela. Andilla parou no chão, de pé, mas não descansou sequer um minuto: rapidamente avançou contra Idriel, segurando-o pelos ombros e dando-lhe um joelhada na altura do estômago. Não demorou em derrubá-lo, novamente com um golpe rápidos dos pés, mas não demorou em começar a socá-lo novamente. Ele havia errado em desperta-lhe a fúria daquele modo. Ali, possuíam mais facilidade de movimentos, e por isso mesmo Andilla continuava a tentar desferir-lhe socos e mais socos.

A força dos socos não era o suficiente para qualquer um deles ganhar. Tanto Andilla quanto Idriel eram fortes, e ela tinha plena consciência daquilo: que nenhum dos dois iria desistir, recuar ou até mesmo parar mesmo que tentassem. Outros soldados imploravam para que ambos parassem e ela ouvia ao longe o rosnado de Rähvin, como se pedisse ou implorasse uma permissão para que pudesse interferir. Ela apenas negou com um aceno de cabeça, e aquilo foi o suficiente para desconcentrar-se e Idriel fazer com que ela socasse o chão. A dor foi cruciante, e o estalo denunciou que ao menos um dos dedos ela havia quebrado. Maldito. Andilla sentiu ele segurar-lhe pelo pescoço e antes que pudesse fazer qualquer coisa, estava sendo arremessada contra uma das paredes do quartel. O primeiro instinto foi tentar puxá-lo consigo, mas ao perceber que aquilo não seria possível, protegeu sua própria cabeça. Sentiu o impacto do corpo contra a parede, e ouviu o estrondo que foi originado pelo impacto. Andilla havia atravessado a parede, devido a velocidade que havia ganhado. O corpo arrastou-se contra o chão e sua armadura estava totalmente acabada, assim como ela mesma. O gosto do sangue invadia sua boca, e percebeu que havia quebrado dois dedos da mão esquerda, mas possuía a direita realmente inteira. Tossindo e sentindo uma pontada, Andilla levantou-se. Idriel provavelmente havia pensado que teria ganhado, mas Andilla respirou fundo uma, duas, três vezes. Foi uma questão de segundos para a drinael de cabelos esbranquiçados sair correndo na direção do outro. Quando estava próxima de Idriel, puxou-o para perto, e quando o fez, preparou o cotovelo esquerdo. Com força, deu-lhe uma cotovelada na altura das costelas. Depois, juntou novamente toda a força que podia no joelho e provocou-lhe uma joelhada, novamente na altura do estômago, e em seguida outra... Não pararia até que ele resolvesse agir - isso se conseguisse.

Eles poderiam ficar ali até o amanhecer. Ele não iria desistir, e ela muito menos. Ficou satisfeita quando ouviu o crack, denunciando que ao menos a vingança por alguns de seus dedos havia chegado, diante a força que Andilla aplicava no próprio cotovelo. Estava exausta, mas jamais deixaria Idriel sair de lá inteiro - muito embora ambos não estivessem daquele modo. Viu que ele cuspia o sangue e ela respirou fundo. Estava com os dedos quebrados, estava com ferimentos pelo rosto, e quando percebeu que os socos e chutes vinham um seguidos dos outros, ela permitiu que ele fosse até onde quisesse... Até ver Idriel erguer a perna. Deixou-se atingir pelo soco, pelo chute. Mas, quando estava indo em direção chão, Andilla rapidamente puxou Idriel consigo, fazendo com que ele acabasse deitado no chão. Rolou pelo chão, aplicando socos sobre o rosto dele - e por fim, forçou-se a parar quando estava em cima do rapaz. Puxou a adaga e os olhos brilharam, a mão de Andilla tremendo. Deixou-a poucos centímetros de distância, ofegante.

Rähvin rosnou, e foi a única coisa que interrompeu a linha de raciocínio de Andilla. Em um movimento rápido o suficiente que fez algumas pessoas gritarem, Andilla ergueu a adaga e desceu com força bruta. Atingiu o chão, a centímetros do rosto de Idriel; fincando a ponta da adaga no chão de barro. Os olhos azuis, intensos e que tanto se assemelhavam a gelo, por fim fitaram os olhos dourados do outro, pela primeira vez em anos. ── Você não é digno do ódio, da raiva ou do desprezo. Tampouco da minha vontade de enfiar essa adaga em qualquer parte de seu corpo. Oziel não me perdoaria, e não vale a pena. ── Andilla ergueu-se. Estava exausta, mas ainda assim, girou a adaga entre seus dedos. Estava prestes a cair, mas Rähvin aproximou-se dela e serviu-se de apoio. Guardou a adaga e estendeu a mão para Idriel - não a quebrada. ── O General vai me matar. ── Resmungou, esperando ele se levantar. Havia saído vitoriosa, afinal?

Andilla estava acabada, mas Idriel certamente havia sentido sua fúria - e aquilo importava, afinal. Ouviu qualquer coisa sendo proferida pelo drinael de cabelos castanhos. Andilla tinha a pel manchada de sangue, tanto quantos alguns fios do cabelo e até mesmo pelas roupas. Sua exaustão era incomparável e ela ofegava, tentando respirar. A mão agora doía mais ainda, devido aos dedos quebrados, e com certeza não arrependia-se daquilo. ── É, sei lá... ── E antes que pudesse falar ou ouvir qualquer coisa, sentiu Rähvin próximo de si, assim como vários outros soldados e, em um instante, entendeu que estavam levando-os para enfermaria. Apoiada no lobo, percebeu apenas que começava a amanhecer e permitiu-se fechar os olhos, mergulhando em um sono sereno.